domingo, 27 de dezembro de 2009

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedo e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

(Fernando Pessoa- Alberdo Caeiro)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Você era algo no qual eu não queria. Eu tinha uma implicáncia tão grande, parecia mas uma promessa. Enquanto isso, sua presença entrava semanalmente e carnavalizava minha alma vazia até se encher. olhe só, eu me enchi de você de uma forma tão forte que virei carnaval, voltei a ser colombina, sorri na intensidade de cada paixão.
Pois é, Alê é uma pessoa que tem alma multicolorida e consegue exprimir isso passando seu cheiro de coisa boa pra todo mundo, toda folia.
Nossos primeiros traços começou com essa implicáncia e hoje somos uma a paixão da outra, não dá pra negar.
te amo, amiga :D

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"de quando te vi pela primeira vez, sem jeito de repente te vi assim. como se não fosse ver nunca mais e seria bom que eu não tivesse visto nunca mais, porque de repente vi outra vez e outra vez e outra, e enquanto eu te via nascia um jardim nas minhas faces, não me importo de ser vulgar, não me importa o lugar-comum dizer o que os outros já disseram, não tenho mais nada a resguardar um momento à beira de não ser eu. não sou mais tudo se revelou tão inútil à medida em que o tempo passava tudo caia num espaço enorme entre eu e você, mas não se culpe deixa eu falar como se você não soubesse. não se culpe, por favor. não se culpe ainda que esse som na campainha fosse gerado pelos teus dedos eu não atenderia, eu me recuso a ser salvo e é tão estranho, o entorpecimento começa pelos pés..."
Caio Fernando A.

sábado, 21 de novembro de 2009



Sonhei com João

Lembrei de José

E acordei com Antônio.



(silvia, tú eres todo, ¿sabes que eres todo? tú eres la sonrisa, la mañana, la casa, tú eres la primera mujer que han creado, ¡eres mi amor!)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Didier

Você,
uma menina procurando
o tempo todo a liberdade
lúcida.
Eu,
uma mulher tentando achar
o porto seguro pra se libertar
da liberdade.
Fito ao meu redor e olho o quanto você mudou perto de mim, você cresceu em mim e me engole cada dia mais, porque dói saber o quanto é espantoso aprender com uma pessoa a qual eu ensinei.
Engraçado... um dia você tirou a barba e eu dei mais um dos meus escândalos esquizofrênicos e hoje eu precisei de você com aquela cara de menino, dava em média uns 14 anos pra tua cara limpa. Meus deus, eu nem reclamei, se quer eu fiz cara feia. aceitei tão bem que até te beijei, andei de mãos dadas...

domingo, 25 de outubro de 2009

"Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito linda e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim." (Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Chuva, suor e cerveja!







(que é pra você saber o quanto eu sinto saudades...)







segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Não sei amar a calma
Não sei da paixão suave
Nem do carinho leve

Não sei amar o cotidiano
Não sei da paixão homeopática
Nem do carinho cronometrado

Só sei do momento bárbaro
Que aflora erupção vulcânica
E sublima a mortalidade
Na mas profunda satisfação animal"

(Seu José Jofilsan, minha coisa linda de todos os dias.)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Levo a liberdade ao meu favor.

Ando cansada do meu mundinho. Daquele mesmo que você conheçeu um dia. eu, as fotografias, os planetas, as cores e o abraço.
-esgotei!
O mundo, meu bem, é de constante mudança, e embora eu não esteja preparada pra tal coisa, preciso encarar que vivo numa bolha de contagios mundias. e isso diz respeito as oscilações que me faz acordar cada dia e saber que vivo, e não apenas sobrevivo.
Embora viver seja respirar a nostalgia das fotografias que nunca consigo jogar fora, deitar e tentar tocar em júpiter e saturno na sua transa perfeita, colorir os sorrisos dos amantes mais secretos e dos amigos mais sinceros e lembrar do abraço que não é abstrato, que não é desconvexo, não é descontinuo nem desconfortável. Ao contrário, o abraço feri a fogo, porque é de alma, é espiritual e carnal. é amigo, e amizade não se muda. eu repito: amizade não se muda!
mudar, mas devagarzinho. mudar com sensatez, porque mudança de amores requer muito choro e vela. e só de lembrar que preciso deixar em outro mundo o eu, as fotografias, os planetas, as cores e o abraço, me faz não querer mudar. mudar pra quê?
Me pergunto, excluvivamente com aquele "eu" que ainda sou: Porque as pessoas estão em constante mudança pra buscar a meta e a metade da sua identidade?
e o mesmo "eu" responde: a identidade é nós, a meta é a busca insaciável pelo vida invisível e a metade é inteira, grandiosa. talvez a metade sejam eles, porém podem também ser elas. não, isso eu não sei responder porque metade pra mim é amor e a outra metade também, isso faz com que eu entenda que amor não se explica, amar é urgente!
Entendi então que daqui a mil segundos me mudo, mas sem nunca deixar minha meta insaciável, identidade do "eu" passado e principalmente as fotografias, os planetas, as cores e o abraço. levo a liberdade ao meu favor!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

versos íntimos

Vê?! ninguém assistiu ao formidável
enterro de tua última quimera.
Somente a ingraditão - esta pantera
foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te á lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
mora, entre feras, sente inevitável
necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
a mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
apedreja essa mão vil que te afaga,
escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Tpm clariceana

Sinto um negócio por dentro, bem lá dentro que mexe qualquer coisa e se torna viva. E o que eu penso ser negócio é chamado de vazio mensal. É algo podre, porque eu me torno podre falando coisas sem nexo de um "eu" bandido, trazendo a raiva da vida inteira, jogando em pessoas maltidas de caráter sujo e ameaçador silencioso o que penso na realidade. e o que eu penso não é nada bonito, você pode pegar de exemplo sua tripa e engolir, fazer uma autodigestão e ver que tudo se perde, nada se transforma. Além do meu jogo carnal diabólico, eu posso me mostrar uma pessoa introspectiva, com uma vontade de saber quem eu sou tão frenética que me faz delirar e sentir o cheiro podre do mundo ou mesmo o teu cheiro de lambedor de beterraba, e logo após ouvir no surprises do radiohead e perceber que não sou nada de útil, apesar do livros e fatos.


Eu digo não ao plágio gerado por essa década de idiotas, eu digo não!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O dia em que Júpiter e saturno (não) se reconheçeram

Foi uma das primeiras pessoas das quais ela teme e trata com desdém que a mesma viu. Era bonito, era barbado e gordinho. tinha um olhar pequeno, mas completamente invasivo; tinha um olhar que anunciava a entrada e a partida. Se mantinha do outro lado da rua com pessoas conheçinhas de pouca importancia afetuosa, apresentava sempre sua vinda. Ela no seu traje de uma elegância indescultível se mostrava atenta ao que não fosse a presença fria daquele homem. ela mostrava importancia com um copo de cerveja, duas amigas e uma bolsa preta. Como de costume ele desce as escadas e vem em sua direção, como de costume ela se finje de louca, de bêbada. ela adota uma chamada urgente no telefone, ela inicia uma maquiagem borrada, ela faz e acontece para não precisar dos beijos e abraços formais daquele indivíduo inconstante.
Mas de fato ele faz o que ela tanto espera. o abraço, dois beijos nas maçãs do rosto e um tudo bem com tom de superficialidade.
Pra ela é dia de festa, e dias de festa não contém ele e sua contradição diária; pra ela é melhor entrar na festa, tomar todas e dançar a noite. Ela não tem dúvidas, ela entra e faz dá sua noite desconexa uma coisa eufórica com danças e coreografias pseudo-ensaiadas, com passos duplos, sorrisos largos, suor, cabelos ao vendo e principalmente alegria. ela faz seu show ter platéia, ela faz com que as pessoas parem para ver a cena de sua vida, para ver como se é feliz sem uma insegurança acentuada. Com isso ela consegue fazer com que ele pare, sente, veja, beba, faça caras de interrogação e se mostre sempre chato e fechado. Ele se torna a plateia da vida dela e talvez apenas pra intimida-lá, talvez só pra isso. Mas a luz se apaga, a festa não para e pessoas se afastam. Júpiter e saturno se reconheçem!
Júpiter puxa Saturno pela mão e lhe trás uma vida cheia de alegria, a discotecagem faz uma linha anos 80, "Levando a vida adoidado!". Ele pega ela pelas costas nua e mistura suor, saliva e cerveja. eles se beijam, se abraçam. Saturno cruza o céu que Júpiter habita, Júpiter reconhece Saturno e sua leveza diante do romance.
O céu chove de emoção e eles aproveitam para ficar grudados embaixo do guarda-chuva, como num filme frances qualquer, com diálogo alemão e histórias em espanhol. com encontros e desencontros, beijos molhados na nuca.
Adeus guarda chuva azul-claro-avó, agora eles se aquecem na chuva branca, na chuva morna. eles se aquecem na chuva que se transformou para receber aquele momento único, aquele momento de silêncio e aquele momento tinha tudo haver com os planetas.

-tenho frio
-tenho esse momento, não preciso de frio!
-então me abraça forte, eu quero te ter.
-vamos ficar calados, quientinhos. vamos aproveitar o momento.
-me beija!
-te beijo!
(Silêncio profundo, olhares penetrantes.)

-isso tudo tá bonito
-tá sim, lindo!
-dorme comigo
- não!
-dormi comigo! não precisamos transar, mas eu queria ficar agarrado contigo e passar o dia de amanhã ao teu lado.
-não, eu tenho minha vida; eu tenho o mundo afora pra correr, vencer batalhas que ninguém vê!
-por favor, dorme comigo!
-eu não vou, já disse!
-então me contra amanhã, eu te ligo. me encontra amanhã por favor!
-te encontro, mas acho que tu não vai me ligar
acho que tudo vai se esqueçer por aqui.
-eu vou te ligar, eu preciso te ver amanhã.
-eu acredito.

Voltaram pra festa, tinham um ar de namorados, amantes antigos sinceros. no coração dela batia exatamente 2 tiros, no coração dela existia o delima da expectativa do dia seguinte e o final do dia de "agora". ele aparentava felicidade frequênte, ele aparentava samba e amor.
Despediram-se com beijos molhados longos na escada seca com a chuva dos planetas e ele foi embora com cara de partida. Ela deu as costas e terminou indo embora depois de exatamente 10 minutos. O dia raiou, a festa acabou e nada mais é igual sem ele!

terça-feira, 19 de maio de 2009

O dia que Júpiter encontrou Saturno

Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.Não que estivesse triste, só não sentia mais nada.Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse.Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha.E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every dau, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos dos moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro.
-Você gosta de estrelas?
-Gosto.
Você também?
-Também. Você está olhando a lua?
-Quase cheia. Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você.
-Também acho.

(Silêncio)

-Você gosta de Júpiter?
-Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra
-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?
-Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro.

(Silêncio)

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

(Silêncio)

-Como é que você sabe?
-O quê?
-Que o menino vai se matar.
-Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
-Eu não sei nada.
-Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
-Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
-Ninguém compreende.
-Às vezes sim.
Eu te ensino.
-Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também.
-Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo?

(Silêncio)

-Você tomou alguma coisa?
-O quê?
-Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina.
-Não tomei nada. Não tomo mais nada.
-Nem eu. Já tomei tudo.
-Tudo?
-Cogumelos têm parte com o diabo.
-O ópio aperfeiçoa o real
-Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo.

(Silêncio)

-Acho que estou voltando.
Usava saias coloridas, flores nos cabelos.
-Minha trança chegava até a cintura.
As pulseiras cobriam os braços.
-Alguma coisa se perdeu.
-Onde fomos? Onde ficamos?
-Alguma coisa se encontrou.
-E aqueles guizos?
-E aquelas fitas?
-O sol já foi embora.
-A estrada escureceu.
-Mas navegamos.
-Sim. Onde está o Norte?
-Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta.

(Silêncio)

-Você é de Virgem?
-Sou. E você, de Capricórnio?
-Sou. Eu sabia.
-Eu sabia também.
-Combinamos: terra.
-Sim. Combinamos.

(Silêncio)

-Amanhã vou embora para Paris.
-Amanhã vou embora para Natal.
-Eu te mando um cartão de lá.
-Eu te mando um cartão de lá.
-No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar.
-No meu não vai ter pedra, só mar.
E uma palmeira debruçada.

(Silêncio)

-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue.
Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.

(Silêncio)

-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

(Silêncio)
-Tudo isso é muito abstrato.
Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos.
-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)

-Me beija.
-Te beijo.

Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta.Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo.Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-sena janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido.De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.

Caio Fernando Abreu
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
Memórias de minhas putas tristes- Gabriel García Marquez

terça-feira, 12 de maio de 2009

Casa vazia em plena terça-feira agitada com um clássico futibolistico. terça de futebol? mas dia de futebol não é quarta- feira? sei lá, tá tudo meio estranho, surreal.
Volto com a idéia da casa vazia, das paredes pastosas, dos garfos e facas me ameaçando constantemente. Fico com os livros, o travesseiro e uma rinite que últimamente está sendo a minha maior companheira; -funga, funga! (ela quase se expressa com apenas o seu barulho, ela quase diz: tô aqui, não desiste.)
Minha mãe foi embora, minha avó pela rua, o meu pai dentro das cenas e filmes. telefones, email, site de relacionamento, site de expor emoções, site da porra que se encontra dentro de mim. será que não aparece um site pra trazer alguém pra cá, não?
Não precisava ser alguém bonito, que fosse engraçado, que falasse, que gostasse das mesmas coisas que eu; não, não precisava. bastava uma pessoa pra ficar do meu lado, não era preciso nem ela me olhar, bastava sentir a presença fria dela pra me mantar de pé.
E digo mais, se essa pessoa viesse eu juro que pagava, juntava todas as minhas economias, roubava o cachorro, fazia empréstimo com a família. Ela nem sorri precisava, ela nem andar precisava, nem piscar, talvez só balançar a cabeça pra eu saber que é presente, que tá viva.
insisto que pago e ainda com juros apenas pra ficar ao meu lado, e juro que não falo nada, que não conto meus problemas, que não digo minhas piadas sem graça e nem falo dele.
tá bom, amanhã compro uma estátua!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."



é verdade, metade vaaaai!

domingo, 3 de maio de 2009

"Enquanto isso, vá me estendendo a mão que eu preciso dela.
Se você não diz nada, é porque tem muita coisa dentro de você. Eu queria que você se confiasse um pouquinho mais a mim. É isso que chamo de jogo unilateral. Não pense que eu ando atrás só de "belas coisas simples". Eu quero qualquer coisa, desconexa, contraditória, insegura, não tem importância, desde que seja sua.
As definições redondas e grandiloquentes , as coisas categóricas e acabadas não me satisfazem, porque eu não sou assim."
Maury Gurgel à Clarice L.
Não, gostar não! gosto da tua teimosia, do teu sorriso singular fechado, do teus olhos antisentimentos, do teu jeito de caminhar, vencer batalhas que ninguém nunca vê. será que isso é gostar?
Os dois se mantiam deitados, intactos e completamente cansados. Ela pensava o quanto seu coração batia forte, e ele porcurava uma palavra bonita pra dizer depois de toda aquela sequência de coisas que tinham ocorrido.
Ela ainda se preocupava em não demonstrar sentimento por ele, mesmo sendo óbvio, afinal ela estava "aqui e agora" naquele instante.
Tão apaixonada e idiota naquela pose de mulher amada.
Tão amada e apaixonada naquela pose idiota.
E ele fala. Fala do filme esquecido que teria visto numa vida passada, fala da lua dos futuros amantes...




ela acordou e o mundo era outro!

domingo, 19 de abril de 2009

Não entendo! nããão, entendo!
tô aqui calada, quietinha, segurando o choro da semana passada.
um choro completamente provável, mas um choro necessário.
não entendo essa fuga precisa, essa insistência em ir embora.
abandono não, jamais! até porque você nunca me cativou.
mas você me teve pelo menos na ponta do dedão e fez o que quis,
me encontrou e me prostituio.
sei que eu não corri atrás, não me decidi, não declarei o
que jamais pensei em sentir, não declarei o que tu jamais cativastes.



As bocas são beijos, porém também são palavras;
então, palavras por favor. bocas que falem, que digam,
que forme frases, que existam coerências, que se transformem
em textos, em cartas, em crônicas, conversas, livros, memórias.
mas que digam, que mostre clareza a um ser humano.
(Me desencontre, não me prostitua!)

domingo, 12 de abril de 2009

a morte é certa
a carne é fraca
a vida é curta
o sofrimento inevitável

a carne é certa
a pele é fraca
a roupa é curta
o coração indomável

a pele é pele
a roupa é roupa
o sangue é sangue
e a ânsia insaciável

o corpo humano
é desumano
o corpo amado
é desalmado
tudo
é pecado

a vida é breve
a febre é alta
a alma é uma
e o demônio tão amável

o mundo é grande
a mente é suja
o sangue é quente
e o desejo indisfarçável

o amor é cego
o amor é surdo
o amor é mudo
e a moral abominável

o corpo humano
é desumano
o corpo amado
é desalmado
tudo
é pecado


(semana santa)

terça-feira, 7 de abril de 2009

29/12/2008

Deixa isso pra lá que amanhã é 2009, amanhã a gente se vê e tudo volta ao normal, mesmo sabendo que a coisa mais anormal é te ver.
Deixa pra lá que amanhã eu acordo outra pessoa, com outra cara, outro corpo, outra cor, e quem sabe você pode me querer denovo.
Deixa toda essa besteira de lado, deixa essa cara de futuro pra o passado, deixa essa ânsia de viver pra fora (de dentro pra fora, de fora pra dentro), enfim, deixa tudo e vira o mundo.
Deixa 2009 pra lá, volta tudo, vota em tudo, que strokes voltou pra tocar mais is this it e isso tem haver com a nossa festa particular.
Deixa que falem, que digam, repitam, critiquem que a gente não dá certo, que tudo é passado e eu tô do lado contrário.
Mas fica, mesmo sabendo que meus livros, dicos, roupas ou cabelos não vão te fazer ficar.
Fica pelo teu amor doismileseis, nem que seja por pena, mesmo sendo por vaidade, fica de verdade. fica por causa da primeira vez, fica pela última. pelo último suspiro de amor e dor, pelo último gozo, o último grito, o beijo último, o teu desejo.
Diz que fica por qualquer lembrança, pois contigo eu fico por qualquer sim e até por qualquer não, fico com tua samba-canção listrada, fico com teu cheiro maracujá, essa tua orelha marcada e qualquer palavra não tão estudada.



definitivamente, meus discos não vão te fazer ficar!

domingo, 5 de abril de 2009

-Minha vida é monótona. Eu caço galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. E isso me incomoda um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. (...)


-Por favor... cativa-me!- disse ela.
-Eu até gostaria-disse o príncipizinho-, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conheçer.
-A gente só conheçe bem as coisas que cativou- disse a rapousa.
(...)
-Se tu queres um amigo, cativa-me!
-Que é preciso fazer?- perguntou o pequeno príncipe.
-É preciso ser paciente- respondeu a rapousa.- Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim , na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás um pouco mais perto...
No dia seguinte o príncipe voltou.
-Teria sido melhor se tu voltasse á mesma hora- disse a rapousa. -Se tu vens, por exemplo, ás quatro da tarde, desde ás três começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando mais eu começarei a ser feliz. Ás quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!


(O Pequeno Príncipe)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Passei o dia inteiro pensando em escrever pra limpar um pouquinho a minha mente que só é de números, fórmulas e fatos. Daí uma amiga aparece contando que precisa escrever um texto filosófico, mas que não tem grande inspiração por que anda com a cabeça cansada e uma ansiedade exacerbada. Na mesma hora me vejo dentro dela (ela que é minha versão bem mais gostosa e baixinha) andando de mãos dadas com a inspiração que ela deixou em um bar qualquer.
Começo mais ou menos assim, na verdade começo com uma pergunta pra os senhores leitores; Porque um não é muito mais pesado do que um sim?
Sim, o "não" é não, e ponto final. exclamação dolorosa. O "não" não vem de reticências de esperança, ele realmente insiste em um ponto final. fim!
O "não" vem de medo, desejos interrompidos, indiferença, vaidade. O "não" nunca é o mais sincero, nunca é o que queremos de fato.
Já o "sim", esse é tão alegre, de confiança, auto-afirmação, de bar, de cerveja, de sexo, de paixão.
o "sim" é de "pode me chamar que eu vou", é de "quando eu cansar dos teus beijos te digo", é de chamar pra tomar uma cerveja, é de ficar sem ter medo de ser feliz, é de subir em palcos e não se importar se você foi ridícula, é de ir a bares nostalgicos e marcar reconciliações com pessoas do sexo "não"

Gosto do sexo NÃO, mas prefiro levar em consideração o teu SIM!

(Essa é pra minha versão mais baixinha, gostosa e cretina, Te amo!)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Hoje decidi gostar de você. Não, não decidi. Hoje eu acordei gostando de você.
E isso não tem nada a ver com sonhos, visões, paixão... Por favor, nem ache que tem alguma coisa a ver com paixão! Decidi isso hoje porque já venho cativando há séculos um carinho, uma admiração... Talvez por alguma infamidade que tenhas soltado ou simplesmente por carência da minha parte.
Ah! Hoje gosto e pronto.
E dependendo dos seus afagos continuarei gostando durante o resto do dia (talvez isso possa se estender até a noite); e na manhã seguinte, quem sabe?
Com um pouco de sorte chegaremos ao final da semana.

Mas caso seus olhares fiquem ausentes, graças a uma displicência qualquer, degosto de você.
E serei a mulher mais desiludida do mundo.
Mas amanhã...?
Amanhã acordarei gostando de...
hum...
Deixe-me ver...




(e qualquer desatenção, faça não
pode ser a gota d'água...)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Pensamentos soltos

Parada permaneço com a respiração ansiosa e o barulho da chuva caindo depressa, com urgência de molhar a minha vida. Fico aqui quieta, quase paralítica pensando no que devo fazer pra esquecer o que passou. aqui eu fico com as mazelas impregnadas do carnaval, as doenças que fiz questão de te contagiar pra não ser mais um no meio dos mortais. E o mundo é de contagios, nada a mais que isso. Aqui eu fico pensando em ver um filme pra aguçar a minha emoção, dizer a elas que eu ainda existo mesmo só, mesmo sozinha. Ler nessas horas seria uma boa idéia mas a vista treme, lagrimeja, doí e eu só olho pra parede branca refletindo nada com tudo, morte com ressureição.
Por fim, vejo toda foto rasgada, surrada com outros alegres humanos e eu tão psicopatazinha de quase 17 anos no meio dos miseráveis, eu que tô no meu inferno astral pré-aniversáriante.
Porque eu que me dizia tão cheia em 2009, me vejo vazia de tudo. Me mostro saturada do que nem me pertence, do que eu nem fiz. me sinto saturada do vazio.
Mas o mundo é outro, o mundo é de velocidade e eu me encontro parada no tempo com pensamentos que não vão me levar a uma vitória comemorada, mesmo sem saber porque eu tenho que ser vitoriosamente vestibulanda no final do ano.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Terça-feira de carnaval, dia 24 de fevereiro e uma ressaca ordinária em minha vida.
A mente pedia o carnaval da carne, mas o corpo pedia pra pará. o corpo pedia cama e doses homeopáticas, mas a mente queria o sexo sem nexo teu, do teu carnaval.
A tarde pediu Olinda sombria com furtos e familiares, mas a noite, essa pedia o fogo dos corpos necessitados; essa me media a dança, o evento, o artista e tudo que fosse eletricamente agitado.
Dentre os agitos quase pós-carnavalesco eu te encontro sublime e fechado, tão chato!
Porém com teus beijos eu encontrei o que jamais tinha achado antes.
E a gente rodava, se beijava, se abraçava e com olhares tontos e molhados quase pediamos pra não nos perdermos. Era a necessidade complexamente apaixonada; era o teu eu dentro do meu eu lírico.
Por fim quarta-feira, por fim o cinza da quarta-feira de cinzas, mas o vermelho que eu quero ter comigo o ano inteiro. "De janeiro a janeiro sem atropelos..."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Paixão
desespero
eu quero!

Tesão reprimido
carícias sexuais
beijos nos olhos

Silenciosas palavras
frases beijadas
olhares cegos

Te quero
t'quiero
te
que(ro)

Carnaval
fantasia
cerveja

Música
ouvido
samba

Me leva
me rega
me cega

vai embora
volta!

(lambe olhos, torçe cabelos!)